quarta-feira, 20 de maio de 2015

Escaladas na Serra Grande, conquistas e novas possibilidades (Cantá - Roraima)

Havia subido a Serra Grande em março de 2014, sem pretensões de realizar escaladas (até porque ainda estava iniciando nessa vida), somente com o intuito de fazer a trilha até o cume. Missão cumprida, muitas viagens e escaladas depois, lembrei de algumas paredes que havia visto na Serra Grande e resolvi voltar com André, meu amigo e parceiro de escalada, para explorar o local e a as paredes vistas anteriormente.

Relato da primeira subida:


 A Serra Grande dista cerca 35 km de distância de Boa Vista e está no dentro do Município de Cantá. Para chegar até ela você deve seguir direção a Guiana Inglesa, passando pela famosa Ponte dos Macuxis (que cruza o rio Branco) após essa ponte você já está na BR 401  rumo a Guiana Inglesa, daí após 2km  é só entrar em uma vicinal a direita e seguir reto por 30 km  em estrada de  terra até chegar a simpática Vila de Serra Grande 1(pois existem duas).

Serra Grande vista da estrada


Nossa empreitada começou na madrugada de sábado, quando embarcamos de Manaus a Boa vista as 00h:40min e chegamos pontualmente em Boa Vista às 02h:00min. Daí foi só pegar o carro alugado, partir para comer algo e rumar para a estrada.  A estrada de terra estava em boas condições, só tem que tomar cuidado com as pontes de madeira(contei 4).  Uma  destas estava com um buraco e madeiras totalmente soltas e tivemos que sanar o problema no breu da madrugada,cruzando  os dedos para que as madeiras suportassem o peso do carro e este não se empirulitasse rio abaixo.! 
Passado o sufoco chegamos a vila serra grande. Demos um pequeno cochilo, conversamos com os moradores para  deixar o carro na frente de uma das casas e as 6h30,  colocamos as mochilas nas costas e iniciamos a pesada trilha de subida da serra!

Como já havia feito anteriormente lembrava dos caminhos e pontos de referencia pois a trilha é marcada com marcas de facão nas árvores e o começo é bem óbvio.  Dependendo da época só há dois pontos de água: no começo da trilha e já próximo ao cume. O problema é que estávamos na época da seca e uma queimada de 15 dias (bem comum por aquela região) havia devastado boa parte da trilha até a parede. Então ficou bem difícil achar a trilha de acesso, pois esta não existia mais e  somado a diversas árvores caídas  pela trilha, tivemos bastante dor de cabeça para achar o caminho....

"Então vamo reabrir essa trilha no facão!"


Depois de cerca de duas horas e meia de subida intensa e andando em círculos dentro da mata que cobre a serra,  chegamos ao local das paredes que havia visto no ano anterior... O melhor  é  que a parede está bem na trilha de acesso ao cume e o que encontramos não foi nada decepcionante... A parede é bem consistente e limpa, talvez granito. A parede deve ter altura máxima de 60m e se estendendo por  cerca de 100 m de largura, sendo um local bastante propício a abertura das mais diversas vias de escalada e o fato de se estar em uma serra de altitude boa (848m) pode ser levado em conta para iniciação ao montanhismo. Além de ter uma vila aos seus pés que pode servir como base de apoio, caso necessite de algo.

de maneira bem tosca(p nao dizer esdrúxula) o caminho percorrido

 Uma leve parada para recobrar as energias, comer algo e já fomos nos equipando para bater as chapeletas. Como a parede escolhida tinha pouco mais de 40 metros, a estratégia definida foi que André subiria bateria uma chapeleta e depois desceria, para eu conquistar o novo lance e assim sucessivamente até terminarmos. A primeira chapeleta ficou há uns dez metros de altura,  apesar de distante é um lance positivo com agarrões e o local para costurar ficou bem confortável. A segunda  é um outro esticão também bem fácil com lances de aderência A 3a chapeleta já é um lance um pouco mais técnico e mais vertical, deve dar um 4o grau e a última chapeleta também deve dar um 4o grau. A via fica a 436 metros de altitude, já começa alta e o visual é demais, pois todo  terreno  abaixo de nós é plano  e avista-se todas as serras das região estendo a visão até o limite da Guiana Inglesa.

André batendo a 1ª Proteção


Eu Batendo a 4ª proteção




a via Penitência IV 45m

A via fica ao lado direita dessa pedra, não dá p ver a chapeleta do chão.. se subir nessa pedra voce pode ver.




 Como a subida foi extremamente penosa e cada chapeleta foi  batida com punho e marreta, ficando cada um cerca de 40 minutos  no sol de lascar, André batizou a via com o nome de Penitência. Terminado de bater as 4 chapeletas principais , decidimos por seguir para o cume e bater as outras chapeletas intermediárias no dia seguinte, deixando o material na base da via.

Por volta das 17h iniciamos a subida e aí foi mais penitência, já cansados e com pouca água estávamos torcendo para chegar logo ao ponto abastecimento. Porém tudo que víamos era mais subidas e trepa pedras!!! Mais uma hora de subida, começamos a descer um vale e coletamos água. Nessa parte há um bom local de acampamento, porém decidimos subir até o cume. Começando a escurecer, nos perdemos(pra variar) e fomos subindo por um caminho de mata fechada! Depois de meia hora embrenhados em galhos e cipós conseguimos sair no cume,....  Extremamente cansados,deu para ver ainda um pouco do pôr do sol e o acender das luzes de Boa Vista e da pequena Vila serra Grande.  Daí foi só partir para o acampamento abrigado do vento, adentrando a porção de mata no cume. Me incumbi de fazer a janta e André de armar a barraca. Foi só comer e dormir. Para terminar a penitência, de madrugada choveu tudo que não choveu em dois meses.... eu cansado, só vi a chuva, reclamei a pouco e voltei a roncar. André se deu um pouco mal, pois como é um cara altamente preparado, não levou isolante térmico, nem saco de dormir....

Coletando água de manhã

Amanheceu a chuva deu uma trégua, só ventos fortes e muitas nuvens. Tomamos café e iniciamos a descida nas pedras escorregadias, dez tropeções depois chegamos na base da via. Molhada do jeito que estava não deu para bater as proteções intermediárias. Arrumamos o equipos e voltamos a descer. 35 tropeções e escorregões depois chegamos de volta vila. A ideia inicial era explorar um pouco mais a região. Abandonamos este plano pois tudo que queríamos era uma cerveja gelada. Rumamos para o bar do seu Antonio e derrubamos algumas cervejas. Depois fomos em direção ao Banho nas águas do Rio Branco(seguindo a mesma estrada de barro) para dar uma relaxada. A Serra Grande segue você por todo o caminho e é possível ver bastante parede a ser explorada.  Até no banho do Rio Branco é possível ver outras serras menores com paredes.



Baixin, Seu Antonio e Andre com serra grande ao fundo: amigos de bar

Banho no rio Branco



o cume de uma serrinha com rocha! vista da margem do Rio Branco

vista do google earth.. olha o tamanho da parede...  essa fica do lado oposto o qual subimos

nas proximidades também da Serra Grande

Pegamos a estrada já escurecendo, entrando na cidade aproveitamos para comer uma carne de sol(enfim um almoco de verdade) o qual pagamos a bagatela de 8 reais e que estava muito bom(talvez a fome tenha temperado um pouco mais). Mais algumas cervejas e partimos para devolver o carro no aeroporto e esperar nosso voo!

Assim a viagem foi bastante produtiva, com a certeza de um retorno próximo para exploração das diversas paredes próximas a Boa Vista, cidade esta próxima a Manaus, com passagens de avião relativamente baratas(200 reais ida e volta 1h de voo, mais barato q ir e voltar de onibus) e para escaladas de excelente qualidade!